quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Eva Wilma só quer trabalhar “Eu percebo direitinho quem está na TV só por vaidade" e fala da modelos que viram atrizes. No programa de Abujamra



















Eva Wilma - Talento ela tem de sobra "Na minha idade, as personagens não são protagonistas, e isso é normal. Só quero gostar da personagem e me divertir com ela."
"Confesso que essas fisionomias excessivamente plastificadas, cheinhas de botox na TV me incomodam"Eva Wilma, de 76 anos, já perdeu as contas dos trabalhos ao longo dos seus 56 anos de carreira. “São ma
is de 30 novelas, mais de 30 espetáculos teatrais, 22 ou 23 filmes”, ela diz, em entrevista exclusiva à reportagem, concedida em seu apartamento, no Itaim, em São Paulo.
A agenda dela está cheia: novela a caminho, musical em homenagem ao centenário de Adoniran Barbosa sendo produzido e o lançamento do filme A guerra dos vizinhos. “Minha velhinha dança até o rebolation!”, conta a atriz, que hoje quer fazer rir.
Desconfiada do fotógrafo, pergunta, sorrindo: “Você não vai vender as fotos na rodoviária, né? Uma amiga já comprou foto minha assim”. Só um dos muitos causos da atriz, que já foi
Ruth, Raquel e Maria Altiva, entre tantas personagens memoráveis e que ainda procura espaço para os prêmios, que se amontoam em uma caixa repleta de troféus.
Por que você decidiu voltar à TV em Araguaia, próxima novela das seis da Globo?
Vai ser uma comédia, e estou louca para fazer humor. Finalmente, vou contracenar com a minha querida Laura Cardoso, coisa que nunca havia acontecido. Nossas personagens terão muito humor. Em 56 anos de ofício, tive poucas chances de fazer uma garota de programa, uma prostituta. O passado da Beatriz (personagem dela na novela) é esse.
Qual o seu incentivo para continuar atuando?
Só quero trabalhar. Pretendia ficar no Rio de Janeiro, mas então Papai do Céu o chamou (sobre o ex-marido, Carlos Zara, morto em 2002). Quando me perguntaram na Globo o que eu queria para renovar o contrato, disse que só queria voltar para São Paulo. Na minha idade, as personagens não são protagonistas, e isso é normal. Só quero gostar do papel e me divertir com ele. Recebo muitos textos, mas leio e falo: “Isso eu não sei fazer, não tenho gosto de fazer”. Mas vai aparecer um que vou querer fazer.
A recente separação do casal Claudia Raia e Edson Celulari chocou as pessoas. Você passou por isso quando se separou?
Ah, sim. Terminei um casamento de 21 anos (com o ator John Herbert). Um casal que era famoso e trabalhava junto. Todo mundo quer que eles sejam felizes para sempre. É inevitável, faz parte da carreira. Eu senti, mas sobrevivi a tudo isso porque me recolhi.
Seu segundo marido, o ator Carlos Zara, morreu em 2002. Você se sente solitária?
Faz parte. A perda do parceiro, ainda mais um que preencheu tanto a minha vida, é muito difícil. A gente sente muita saudade. E saudade é o amor que fica. É preciso saber conviver bem com as perdas.
Você teme o tempo?
Não. Acho que a lei da natureza é sábia. Todo mundo deveria pensar nisso. Quando meus dois filhos eram pequenininhos, eu tinha medo de avião. Hoje, nem tenho mais. Um dia, me disseram uma coisa que eu guardo: “A gente nasce sem pedir e morre sem querer. Aproveite o intervalo”.
Seu pai era católico e sua mãe, filha de judeus. E você?
Creio na espiritualidade. Sigo o que aprendi, porque meu pai, assim como me ensinou a nadar, me pegou pela mão e me levou às missas de domingo. Gosto de ir à missa. Para mim é um prazer, tenho até vontade de cantar no coral. Não acredito no ateísmo. O (escritor) Saramago mesmo, um gênio, maravilhoso, se dizia ateu, mas abordava muito a Bíblia.
O que você pede quando reza?
Eu peço, sem nenhuma demagogia, que o povo saiba votar.
Você tem voto definido?
Tenho, mas ele é meu. E ainda estou decidindo, observo com muita atenção as propostas.
Você parece ser pouco vaidosa.
Você acha que eu não gastei meia hora me maquiando para esta entrevista? Mas confesso que essas fisionomias excessivamente plastificadas, cheinhas de botox na TV me incomodam. Às vezes, dá para notar que tem um olho que tá aberto demais, e penso: “Meu Deus, o que houve? Será que ela levou um susto? Ah, não, é porque fez alguma correção”.
O esquecimento das pessoas é algo que lhe preocupa?
Não. Há momentos em que até sinto falta do anonimato. Outro dia, fui ao teatro numa estreia e foram tantos flashes que brinquei: “Estou me sentindo famosa”. Aí, começou uma batalha de perguntas dos repórteres, e eu estava me preparando para ir sentar. Teve um momento em que disse: “Gente, pelo amor de Deus, chega!” E fui para minha poltrona.
Você hoje assiste TV?
Dou prioridade para os noticiários, mas vejo novela, sim. Gosto de ver o trabalho dos colegas. Estou adorando a dupla Cleyde Yáconis e Leonardo Villar (em Passione) e a Irene Ravache, de quem sempre espero exatamente tudo isso. Em Ti-ti-ti tem a Rebeca, uma personagem minha de Plumas e paetês, que a Christiane Torloni faz. Ela já herdou três personagens minhas, como a Dinah, de A viagem.
E pensar que você estava decidida a se tornar bailarina…
Aos 17 anos, já estudava havia sete anos, ia me profissionalizar. Entrei no balé do IV Centenário de São Paulo. No terceiro mês, tive três convites simultâneos, para fazer teatro, cinema e TV.
O que você achou quando soube que a Gloria Pires faria as gêmeas de Mulheres de areia, outro trabalho que você havia feito no passado, na TV Tupi?
Achei ótimo. Cada vez que acontecia um remake, eu ia na Globo pedir para fazer assistência de direção, mas não me deixaram. Eu falei para o Wolf (Maya, diretor): “Você não precisa de uma assistente? Eu adoraria fazer”. Ele nem quis saber: “Fica na tua, Eva”. Sempre pedi para fazer assistência de direção. Eu sou metida! No futuro, gostaria de dirigir. Nunca pedi papel. Sempre fui convidada e analisei o prazer que eu teria. Para mim, ter prazer é o básico.
Como foi disputar um papel num filme do mestre do terror, Alfred Hitchcock, em 1968?
Fui com o John (Herbert), que era meu marido, a uma viagem-prêmio aos Estados Unidos que ele havia ganhado. Visitando os estúdios da Universal, me disseram que o Hitchcock estava procurando uma atriz latina. Fiz umas fotos e, dois meses depois, me chamaram para um teste. Mas eles escolheram outra atriz. O filme era Topázio e o papel não era de protagonista. Para me consolar, gosto de falar que não considero um dos filmes bons dele. E a personagem não era interessante.
Que impressão teve dele?
Um cara genial, um estrelão para valer. Quando ele entrou no estúdio, a equipe inteira aplaudiu. Ele me tratou como estrela também, uma coisa da qual eu me orgulho. Tratamento vip: hotel cinco estrelas, aqueles carros compridões iam me buscar pela manhã.
Numa gravação, você costuma dar conselhos a jovens atores?
Com o maior prazer. Fico muito aflita com a preocupação da imagem hoje na TV. As modelos têm esse sonho de se tornar atrizes. O caminho não é esse. Eu percebo direitinho quem está lá só por vaidade. Aí, desisto de contracenar. Muitos principiantes se preocupam mais com a câmera do que com a representação. Ficam tão nervosos que não contracenam. É compreensível que um rosto bonito ganhe um papel importante. Agora, se vão saber fazer ou não, aí é outra conversa. Para uma carreira, 10% é talento e 85% é trabalho e estudo. Só 5% é sorte.
Redação TV - Estado de Minas

"De repente, modelos resolvem ser atrizes. E não conseguem”. Acostumada a grandes papeis no teatro, TV e cinema, Eva Wilma, 56 anos de carreira e 76 de idade, não economiza o verbo quando o assunto é sobre modelos que encaram logo no inicio da carreira papéis principais em novelas.
Em entrevista a Antônio Abujamra no programa "Provocações", da TV Cultura --que vai ao ar nesta sexta-feira (23), às 22h--, a atriz afirma que entende a necessidade de renovação constante das atrações televisivas. No entanto, ela acha difícil que alguém sem a devida preparação consiga atuar bem logo de cara. “Acho que é uma armadilha inevitável da televisão em si; não do cinema.
Inevitavelmente, [a TV] tem que colocar novos talentos, novos valores, e aí começa a confusão”. A atriz, que retorna em setembro à televisão na novela global "Araguaia", casou-se duas vezes. Primeiro com John Herbert e depois com Carlos Zara, ambos atores, com os quais conviveu por mais de quatro décadas. A carreira começou aos 14 anos já nos palcos, como bailarina, e logo foi convidada a fazer teatro, em 1952.
Já no final dos anos 1960, Alfred Hitchcock convocou Eva para fazer um teste para o filme "Topázio". Ao observar a forma como Abujamra conduz a entrevista, ela resgata o caso: “Você está me lembrando o Hitchcock”, diz, aos risos. “A terceira parte do teste com Hitchcock era justamente isso. Ele aí, onde você está, câmera ao lado, no close, me provocando”.
Ela revela durante a atração que ficou frustrada por não ter sido selecionada, mas lança uma farpa: “Eu tive um grande consolo. É que este não foi um dos bons filmes do diretor”. Abujamra toca ainda num assunto que magoou a atriz no passado: o fato de não ter ganhado nenhum prêmio pela personagem cega da peça "Black-Out", de 1967.
“Chorei debaixo do chuveiro. Mas foi muito compreensível. O espetáculo era bonito, mas era de um autor norte-americano, e nós estávamos vivendo a época das patrulhas ideológicas [referindo-se aos anos de 1968 e 1969, marcados pela truculência da Ditadura Militar]”.
Eva fala também sobre a atuação da censura na peça de teor homossexual "Os Rapazes da Banda", de 1972. “Precisei conversar muito com os censores e explicar que não era um pecado mortal falar de homossexualismo”.
Ao final do "Provocações", questionada por Abujamra, Eva Wilma revela que Clint Eastwood é o seu símbolo sexual. “Pena que ele é casado e mora tão longe. Estou emocionada só de pensar nele”.
"PROVOCAÇÕES" - EVA WILMA
TV Cultura
Quando: sexta-feira (23), às 22h
Do UOL Televisão Notícias

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