quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Novela "Fogo Sobre Terra" - De Janete Clair (Rede Globo, 1974)

Fogo Sobre Terra - De Janete Clair (Rede Globo, 1974)
 
(Juca de Oliveira, Fúlvio Stefanini e Regina Duarte).Janete Clair em 1974, escreveu “Fogo Sobre Terra”, exibida pela Rede Globo às 20h. Na direção dos 209 capítulos estiveram Daniel Filho e Walter Avancini.
No final dos anos 1950, dois irmãos separados na infância se reencontravam na condição de rivais ao decidir o destino de uma cidade e disputar o amor da mesma mulher. Pedro (Juca de Oliveira) e Diogo (Jardel Filho), filhos de fazendeiros do Mato Grosso, foram separados aos três anos de idade após perderem os pais em um desastre de avião. Pedro foi criado pela tia Nara (Neuza Amaral), em Divinéia – cidade fictícia –, no sertão de Mato Grosso, enquanto Diogo foi levado para o Rio de Janeiro e criado pelo engenheiro Heitor Gonzaga (Jaime Barcelos), engenheiro e ex-amante da índia Nara.
(Jardel Filho e Dina Sfat).
No Rio, Diogo frequentou as melhores escolas e desenvolveu um temperamento prático que o levou a se formar em engenharia e a se transformar em um profissional muito bem-sucedido, contratado da empresa de Heitor Gonzaga, de quem adotou o sobrenome e a quem trata como pai. Foi casado e teve uma filha, mas carrega na consciência a culpa pela morte da ex-mulher, que cometeu suicídio logo após a separação.
Enquanto, em Divinéia Pedro Azulão foi educado pelo beato Juliano (Ênio Santos) – ex-piloto do avião em que seus pais morreram – e aprendeu desde cedo a tomar conta dos negócios do pai, se firmando como o boiadeiro dono da maioria das terras de sua região.
Valente, de temperamento explosivo e respeitado como uma autoridade pelos moradores, ele demonstra o amor que tem pela cidade, batizada com o nome da sua mãe, vigiando com austeridade os forasteiros e viajantes que por acaso atravessam o seu território.Representando essas duas realidades – a modernidade e a tradição, o urbano e o rural –, os dois irmãos se reencontram 30 anos mais tarde, quando a empresa de Heitor Gonzaga envia Diogo ao Mato Grosso para chefiar a construção de uma represa no local ocupado por Divinéia. Situada às margens do rio Jurapori, a cidade deveria ser inundada pelas águas do rio.
(Fúlvio Stefanini, Rosana Garcia, Walter Avancini e Neuza Amaral).
Os seus habitantes seriam, então, realocados em outra cidade, a ser construída quilômetros adiante, onde poderiam usufruir dos benefícios da irrigação do solo proporcionado pela barragem. Pedro Azulão, entretanto, não queria pagar o preço de ver sua cidade desaparecer em prol de um progresso no qual não acreditava e estimulava a população a se insurgir contra a obra.
(Jardel Filho e Dina Sfat).
Enquanto tenta convencer Pedro de que estava propondo o melhor para a cidade, Diogo conheceu e se apaixonou por Chica Martins (Dina Sfat), namorada de infância do irmão. A mulher, que passava a ser o objeto da disputa dos dois irmãos, cresceu sonhando em ser rica e morar na cidade grande e, por isso, odiava tudo o que a fizesse lembrar a sua origem humilde. Ela odiava até o próprio nome, a ponto de dizer que se chamava “Débora” ao ser apresentada a desconhecidos. No passado, ela chegou a abandonar Pedro Azulão para fugir com um fazendeiro que passava pela cidade, mas se arrependeu e voltou. No início, seu interesse por Diogo residia essencialmente na perspectiva de deixar Divinéia para viver na cidade grande, mas depois ela se apaixonou pelo engenheiro.
(Dina Sfat, Sônia Braga).
Acompanhando Diogo, também chegava à cidade a jovem Bárbara (Regina Duarte). Ela era a filha que Heitor Gonzaga teve com a índia Nara, quando esta tinha 16 anos. Foi levada ainda criança para a cidade grande e criada pelo pai, que nunca lhe contou a verdade a respeito da identidade da mãe. Seu maior drama são as frequentes crises nervosas que lhe provocam cegueira psicológica, uma consequência do trauma de ter sido afastada da mãe.


(Juca de Oliveira e Regina Duarte).
Em Divinéia, ela se aproximou de Pedro e de Nara e, a partir do relacionamento com os dois, conseguiu superar seu problema. Nara foi gradualmente ocupando o seu lugar no coração da filha, até que lhe revelou a verdade. E Pedro se apaixonou pela moça, que terminava sendo a razão pela qual ele abandonava o conflito com o irmão.
(Regina Duarte)
No decorrer da novela, enquanto os engenheiros davam início aos preparativos para a demolição da cidade, Pedro Azulão tentava tudo o que podia para impedir que o irmão levasse a cabo seu empenho. Por conta disso, acabou temporariamente preso. Quando foi libertado, ele se convenceu de que era inútil resistir e decidiu se trancar em casa e se deixar levar pelas águas, como forma de protesto. Mas Bárbara revelou que estava esperando um filho dele e lhe pedia para pensar na felicidade da criança. Emocionado, Pedro abandonou a cidade. No capítulo final, o progresso triunfou, e Divinéia foi submersa pelas águas do Rio Jurapori. Nara, que insistia em permanecer na cidade, morreu durante a inundação.
Curiosidades:
- A cidade cenográfica de “Fogo Sobre Terra” foi construída no interior do Rio de Janeiro, em Barra de Marica, que, na época, era apenas uma vila de pescadores com pouco mais de 30 casas. A cidade cenográfica acabou se tornando uma atração turística, recebendo visitantes nos finais de semana. Ao fim da novela, a região onde foram realizadas a maior parte das cenas adotou o nome da cidade fictícia e passou a se chamar Divinéia.
- A censura, que já havia proibido a sinopse da novela um ano antes, teve influência decisiva na trajetória da trama depois que esta foi ao ar. A primeira intervenção ocorreu quando Pedro Azulão, para evitar a demolição de Divinéia, convocou os cidadãos da cidade a pegar em armas para defendê-la. Os censores viram nisso um estímulo à guerrilha e proibiram as cenas. Janete Clair teve que alterar a história, e o personagem terminou preso, acusado de invasão de domicílio, sequestro e tentativa de homicídio. Quando, desiludido, o herói decidiu se sacrificar junto com a cidade, os censores intervieram novamente. Não queriam que o personagem se tornasse um mártir. No final que foi ao ar, Pedro desistiu do plano pouco antes da inundação, mas a autora marcou sua posição fazendo a velha Nara persistir no seu protesto e morrer.
- Os cortes impostos pelos censores obrigaram Janete Clair a ter que reescrever em poucos dias capítulos já gravados. A autora se queixou em entrevista das interferências da censura: “É preciso dizer que não tem sido fácil escrever “Fogo Sobre Terra”. Por vezes o telespectador deve ter achado um capítulo sem nexo, truncado, e deve ter imaginado que eu enlouqueci. Não é fácil dizer a verdade. E, às vezes, ela vai ao ar mutilada por mil injunções. Em 'Fogo Sobre Terra', de uma só vez, tive que rasgar 12 capítulos. E muitas cenas saíram de minha máquina e não chegaram ao vídeo.”
- Dina Sfat atuou grávida de sua terceira filha durante a novela. É importante dizer que essa novela foi um grande destaque na carreira da atriz, mesmo atuando grávida. Aliás, como já tinha feito em “Verão Vermelho”, novela de Dias Gomes. Já Regina Duarte havia dado à luz a sua filha Gabriela há apenas 45 dias quando começou a gravar. Para dar conta do trabalho e das obrigações de mãe – ela tinha que amamentar a criança de três em três horas –, a atriz se mudou para o prédio em frente à emissora, no Jardim Botânico, onde eram gravadas as cenas de estúdio.
- Na sinopse proibida pela censura, o título original da novela era “Cidade Vazia”. O novo nome foi decidido de uma forma inusitada. Daniel Filho contou que ele e Boni combinaram de jogar o I-Ching e batizar a novela com os elementos que aparecessem nos hexagramas. O resultado mostrou os elementos “fogo” e “terra”.
Janete Clair adaptava suas novelas radiofônicas para a televisão. Não sei porque, mas o remake das suas novelas não fazem muito sucesso. Talvez seja pelo fato de que a autora escrevia pensando muito no ator que iria interpretar determinado personagem.
(A saudosa Janete Clair).
O diretor Daniel Filho formou com Janete uma parceria insubstituivel, um tinha que aprovar a opinião do outro, caso contrário a obra não ficava boa. Foi assim que eles formaram uma dupla de muito respeito na história da teledramaturgia. Aliás, mesmo quando o diretor não estava na novela, ele estava como diretor artístico da Globo, portanto, estava sempre por perto.
Mesmo assim, Dias Gomes, Ivani Ribeiro e Janete Clair, reinaram absolutos na televisão brasileira. Hoje em dia essa qualidade foi pelo ralo. Como disse a sábia e experiente Laura Cardoso em recente entrevista para o jornal O Globo: “tudo que tem mais quantidade sempre perde em qualidade”. Esta é a grande verdade: quantidade nunca foi sinônimo de qualidade.
No elenco, entre outros, estavam Jayme Barcellos, Sônia Braga, Aracy Cardoso, Fúlvio Stefanini, Ênio Santos, Françoise Forton e Herval Rossano.
Veja o vídeo do YouTube a abertura dessa novela que era parecida com a abertura de "Irmãos Coragem", também de Janete Clair, de 1970.

Fonte: blog Nostalgia e Memória da tv

2 comentários:

  1. eu gostaria de assistir, a reprise desta novela por favo. fogo sobre terra.

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  2. Bem que a rede globo poderia regravar esta novela..ia ter uma grande audiência! Obrigado!

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