quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Renata Sorrah celebra 'Vale tudo' e entrega: uísque de Heleninha era mate

Renata Sorrah celebra 'Vale tudo' e entrega: uísque de Heleninha era mate
Atriz fala sobre a volta da personagem alcoólatra que fez história na TV.

A atriz Renata Sorrah
A atriz Renata Sorrah. (Foto: Divulgação/TV Globo)
Renata Sorrah bem que tenta, mas não está conseguindo acompanhar a reprise de "Vale tudo" nas madrugadas do Canal Viva. A novela de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, que foi ao ar em 1988, atualmente é a maior audiência da TV paga na faixa das 0h45 à 1h30.
"É um horário péssimo, muito tarde!", lamenta a atriz. "Mas sempre tem algum amigo que me liga pra comentar que viu uma cena bárbara. Adoro quando isso acontece!".
"Cena bárbara" foi o que não faltou para Renata na trama. Na pele de Heleninha Roitman, a atriz marcou história na teledramaturgia interpretando uma pintora alcoólatra, em sequências de porres que iam do drama, passavam pela comédia - ainda que incômoda - e voltavam ao drama.
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 Aos 63 anos, Renata comemora o sucesso do papel que considera seu "grande momento na televisão", ao lado da debochadíssima vilã Nazaré Tedesco, de "Senhora do destino" (2004). Mas ainda não pensa em voltar à novelas.
"Estou num momento bom de escolher o que fazer, mas no teatro. Estou lendo várias peças, algumas me interessam. É bem gostosa essa fase", diz a atriz, que entre uma leitura e outra, escapa do Rio para andar a cavalo em Teresópolis, onde tem um sítio.

Renata Sorrah
Renata Sorrah em cena de 'Vale tudo': o conteúdo da
garrafa era só mate, revela a atriz. (Foto: Divulgação)
Avessa às badalações, Renata relembra que na época de "Vale tudo" não podia passar em frente a um bar. "O pessoal gritava: 'aê, Heleninha, quer tomar uma?'. Do chofer de táxi ao executivo engravatado". Logo ela, que só gosta de um "vinhozinho com os amigos ou uma caipirinha no verão".
Mas a atriz encara brincadeiras com bom humor. Inclusive o fato de seguidores do Twitter clamarem pelos capítulos em que Heleninha se entrega à bebedeira. Confira na entrevista a seguir:
G1 - Nas redes sociais os internautas estão ansiosos pelas cenas mais fortes da Heleninha...
Renata - Pois é! Está todo mundo agoniado para ver a Heleninha de porre! (risos). Os autores tiveram o cuidado de não mostrar as cenas das bebedeiras logo de cara. No primeiro mês da novela aproveitei para me preparar bastante e fui a várias reuniões do AA. Naquela época a sociedade não encarava o alcoolismo como doença, era um tal de “ah, é só vício, é fácil de sair fora, basta querer...”. Lembro que conversei com um homem que estava há 20 anos sem beber e mesmo assim continuava indo às reuniões do AA. Ele me disse “minha senhora, a gente não fica bom nunca”. Foi por causa dele que aprendi a realidade dura do alcoolismo: quando você descobre que a bebida é mais forte, ela sempre vai te vencer. Então o alcoólatra não pode baixar a guarda nunca, tem que estar em tratamento constante. A novela mostrou muito bem isso. E sem parecer que era uma aula didática sobre alcoolismo, sabe?
G1 – Com jeito de merchandising social?
Renata – Isso! O bacana da Heleninha era o fato de não ser apenas a personagem alcoólatra da novela. Ela foi mostrada muito além disso. Era uma artista talentosa, uma mulher frágil, que se culpava pela morte do irmão, era preocupadíssima com o filho, sofria por ter uma relação horrenda com a mãe [a vilã Odete Roitman, vivida pela atriz Beatriz Segall]. Heleninha bebia sempre que surgia um problema sem solução aparente. Era uma coisa de desespero mesmo. E naquela época o alcoolismo da mulher era muito mais escondido, mais abafado. Nessas reuniões que frequentei do AA, tinham várias mulheres. Umas até muito elegantes, que diziam que primeiro começavam tropeçando no tapete de casa, depois era na sarjeta.
G1 – As cenas dos porres da Heleninha são bastante acessadas no YouTube, inclusive por uma geração que nem era nascida há 22 anos...
Renata - Acho isso tão engraçado! Essa molecada buscando a Heleninha na internet... Tem um ator maravilhoso aqui no Rio que faz no teatro a “Renata Sorrahteira” [o ator Marcio Machado]. Ele é ótimo, ótimo, ótimo, ele é bárbaro! (risos) Procura no YouTube, que tem ele lá. Ele é superjovem, acredito que nem tenha assistido à novela na época. E olha que eu não gosto muito quando fazem graça em cima dos meus personagens...
G1 – A Heleninha quando bebia praticamente se transformava em outro personagem. Qual era sua medida para não deixá-la caricata?
Renata – Sempre fiz a Heleninha com um tom acima e isso funcionou bem. Queria mostrar como ela se tornava escandalosa, degradante, descontrolada. Uma coisa triste mesmo. Tive um “feeling” que deveria dar um tom a mais nas cenas em que a Heleninha bebia. Ela quebrava tudo, gritava, criava coragem para enfrentar a mãe e fazer coisas que nunca faria, como dar um vexame numa festa, rebolar no balcão do bar.
G1 – E quando a Odete Roitman dizia que a Heleninha “entornava cinco litros de uísque”, na verdade o que você estava bebendo?
Renata – Mate. Era sempre um mate gelado que o pessoal da produção colocava na garrafa, no copo. Várias pessoas achavam que eu bebia mesmo. Mas eu nunca fui de beber, só um vinhozinho com os amigos, um champagne, uma caipirinha no verão... Mas não suporto uísque, que era justamente o que derrubava a Heleninha. Eu nem podia passar em porta de bar que o pessoal gritava: “aê, Heleninha, quer tomar uma?”. Do chofer de táxi ao executivo engravatado. Até hoje morro de rir quando alguém diz que “vai fazer a Heleninha” e encher a cara.
Senhora do destino
A atriz em cena como a vilã Nazaré, de "Senhora do
destino". (Foto: Divulgação/TV Globo)
G1 – Heleninha é a sua personagem preferida?
Renata - Adoro todos os trabalhos que fiz, especialmente alguns ótimos escritos pelo Aguinaldo [o autor Aguinaldo Silva]. Mas tive dois grandes personagens, que foram um tremendo sucesso de público, a Heleninha e a Nazaré [a vilã de “Senhora do destino”]. Esses dois papéis foram grandes momentos que tive na televisão, surpreendentes.
G1 - Assiste à reprise de “Vale tudo”?
Renata – Olha, o horário é péssimo, é muito tarde! Mas sempre tem algum amigo que me liga pra comentar que assistiu uma cena bárbara. Adoro quando isso acontece! É incrível como uma novela que passou há 22 anos continua moderna em seus temas, na direção, na luz, nas atuações. Não virou uma novela mexicana, porque algumas tramas acabam ficando cafonas com o passar do tempo. Aquela coisa de você se olhar na TV e pensar: “meu Deus, o que era aquilo?”. Novela é descartável, mas felizmente não é o caso de “Vale tudo”.

Do G1, em São Paulo


'Vale tudo' volta à TV e atualiza debate sobre ética no Brasil
'Acredito que o país mudou', diz autor Gilberto Braga em entrevista ao G1.
Novela lidera audiência na madrugada; personagens fazem sucesso na web.
Os porres de Heleninha Roitman, o visual descolado de Solange Duprat e a ambição desmedida de Maria de Fátima Aciolly estão entre os assuntos mais “transados” na web - só para usar uma gíria da época. Líder de audiência nas madrugadas da TV paga, a novela “Vale tudo” volta a fazer sucesso 22 anos depois de sua primeira exibição e atualiza a discussão sobre ética no Brasil.
No ar de segunda a sexta-feira no Canal Viva, à 0h45, a trama de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Basséres não para de mobilizar os fãs. Desde o último dia 4, quando o primeiro capítulo da reprise foi ao ar, internautas lotaram o YouTube com cenas antológicas, lançaram comunidades no Orkut e criaram perfis dos personagens no Facebook.
O forte teor político de “Vale tudo” hoje é associado à corrida presidencial – nos anos de transição do governo Sarney para o Collor a novela questionava até que ponto compensava ser honesto no Brasil. No Twitter, o termo #valetudo agora passou a ser citado ao lado de comentários críticos aos candidatos José Serra e Dilma Rousseff.
“Pode ser ingenuidade minha, mas acredito que o país mudou. As pessoas estão mais preocupadas com a impunidade”, opina Gilberto Braga, em entrevista ao G1. “O brasileiro de 1988 aceitava a corrupção como fato consumado, coisa natural. E a proposta da novela de discutir ética vinha exatamente daí”, completa o autor.

Raquel e Maria de Fátima
Filha e mãe, Maria de Fátima (Gloria Pires) e Raquel
(Regina Duarte) estavam em lados opostos no debate
de 'Vale tudo'. (Foto: Bazilio Calazans/Divulgação)
“Sangue de Jesus tem poder!” 
“Vale tudo” girava em torno do plano da jovem Maria de Fátima (Gloria Pires) em vencer na vida a qualquer preço. Em troca de luxo e poder, valia de tudo mesmo: mentir, roubar, aplicar golpes.
No extremo oposto estava a mãe da vilã, Raquel (Regina Duarte), que acreditava na força do trabalho e da honestidade. O lema da personagem, “sangue de Jesus tem poder!”, se transformou no bordão popular mais repetido daquele fim de década.
“Foi a novela mais completa que participei. A Maria de Fátima tinha uma riqueza de sentimentos e questionamentos”, relembra Gloria, que na época tinha 25 anos e garantia sua entrada para a história da teledramaturgia nacional. Com uma performance brilhante, a atriz recebeu prêmios como o da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) e o Troféu Imprensa.
Gloria conta que, diferente do que acontecia com outros malfeitores folhetinescos, o público sentia certa compaixão por sua personagem. “As pessoas admitiam, em parte, as atitudes da Maria de Fátima. Ela era pobre e almejava uma vida melhor num país onde ainda havia muita tolerância com a desonestidade”, avalia.
Atualmente a atriz se prepara para atuar em uma nova trama de Gilberto Braga, “Insensato coração”, com estreia prevista para janeiro de 2011. A personagem, Norma, vem cercada de expectativas, já que se trata de mais uma vilã. “Espero que ela seja tão arrebatadora quanto a Maria de Fátima!”, torce.
Odete te despreza
Se os espectadores poupavam a vilã de Gloria, o mesmo não poderia ser dito da personagem da atriz Beatriz Segall. A socialite Odete Roitman se tornou a inimiga pública número 1 graças a comentários depreciativos contra o Brasil.
Odete Roitman
Odete Roitman (Beatriz Segall): vilã virou ícone pop do
Brasil. (Foto: Bazilio Calazans/Divulgação)
 Pérolas do preconceito como “esse país não vai para frente porque brasileiro é preguiçoso, é uma mistura de raças que não deu certo” ou “desde que nasci só ouço falar em crise nesse país” ou ainda “só gosto de ver o Rio de Janeiro da minha TV lá em Paris” compunham o repertório da megera.
Tais falas tinham efeito explosivo junto aos espectadores, o que fez de madame Roitman uma das vilãs mais odiadas da teledramaturgia.
Com o passar dos anos, o público fez as pazes com Odete, que se tornou ícone pop. No Orkut há comunidades-tributo como “Odete te despreza”, além de contas no Twitter que reproduzem as “máximas odeteanas”.
“Odete Roitman era uma bandida. Ela podia espinafrar o Brasil, que isso tinha muito charme”, diz Braga.
Pioneirismo
Ao time de personagens femininas fortes de “Vale tudo” se juntava Heleninha Roitman (Renata Sorrah). Por meio dela, a novela tratou do problema do alcoolismo de forma dramática e realista pela primeira vez na televisão.
Fumantes - hoje vetados na televisão - também circulavam entre uma cena e outra. Rubinho (Daniel Filho), um pianista notívago que sonhava conhecer a Nova York, aparecia sempre com um cigarro pendurado entre os lábios.
Lala Denheizelin e Cristina Prochaska
O casal Cecília (Lala Deheinzelin) e Laís (Cristina
Prochaska): pioneirismo ao debater parceria civil.
(Foto: Bazilio Calazans/Divulgação)
Braga garante que a patrulha do politicamente correto nunca o impediu de desenvolver a novela com liberdade. “Fizemos uma campanha contra o fumo por meio do Rubinho. Nunca senti qualquer tipo de rejeição naquela época. ‘Vale tudo’ foi muito bem aceita”.
Tal aprovação – a trama ultrapassava os 50 pontos de audiência – fez com que a novela tivesse caráter pioneiro em outras áreas, como a homossexualidade. Sim, “Vale tudo” tinha um casal de garotas: Laís (Cristina Prochaska) e Cecília (Lala Deheinzelin).
Na história, Cecília morria e seu irmão, Marco Aurélio (Reginaldo Faria), tentava impedir na Justiça que a cunhada ficasse com a pousada em Búzios fundada pelas duas. Foi a primeira vez que o tema da parceria civil entre pessoas do mesmo sexo entrava na pauta de um folhetim.
A mocinha ‘transada’
O perfume de modernidade de “Vale tudo” também ficava por conta da mocinha Solange Duprat (Lídia Brondi). Repórter da fictícia revista “Tomorrow”, a moça lançou moda com sua franjinha ruiva cortada no meio da testa, o batom carmim e um comportamento liberal para a época.
Cássio Gabus Mendes e Lídia Brondi
Cássio Gabus Mendes e Lídia Brondi como Afonso
e Solange: casal estampava a imagem do disco de
vinil com as músicas da novela. (Foto: Divulgação)
Solange namorava o milionário Afonso (Cássio Gabus Mendes), mas dividia o apartamento e as contas com um amigo, Sardinha (Otávio Müller). Uma coleção de gírias e expressões pontuava suas frases, que terminavam sempre com a palavra “cherrie”.
A personagem também costumava substituir qualquer verbo pela palavra “transar”. Exemplos: “Vamos transar [fazer] uma festa?” ou “você conseguiu transar [resolver]aquele problema?”.
Para estranhamento geral, sua intérprete, não quis mais “transar” televisão. Abandonou a carreira para estudar psicologia. E se casou com seu par romântico de novela.
Cássio e Lídia estão juntos há 20 anos e a ex-atriz é avessa a entrevistas. “Mas essa história de que a gente começou a namorar em ‘Vale tudo’ é lenda urbana”, esclarece Cássio. “Só dois anos depois das gravações da novela nos reencontramos e começamos o namoro”.
Do G1, em São Paulo
Links: globo.com e g1.

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